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Heitor dos Prazeres, um artista visionário e afrofuturista 

No dia 1º de setembro, tive a oportunidade de visitar a exposição “Heitor dos Prazeres é meu nome” no CCBB Rio. Testemunhei de perto o brilhantismo de um multiartista autodidata. Fiquei encantada e, ao mesmo tempo, triste por não o conhecer antes. Saí da exposição transformada, e é por esse motivo que escrevo. Escrevo para que Heitor jamais seja esquecido. Escrevo porque me inspirei muito em sua trajetória.

Sempre tive uma confusão interna, achando que deveria ser “uma única coisa”: ter somente uma profissão, poucos interesses, etc. A verdade é que nunca consegui isso. Nunca consegui ter apenas um trabalho, um único hobby, fazer só uma coisa. Sempre quis mais, sempre fiz mais. A história de Heitor me inspirou justamente porque, ao longo da vida, ele teve muitas profissões, todas com maestria, apesar de pouco ou nenhum reconhecimento. Hoje, sua família se empenha em manter sua memória. Eu, de certa forma, também.

Com vocês, Heitor dos Prazeres  

Heitor dos Prazeres, um nome que reverbera através da história da arte e da música brasileira, é uma figura que desafiou as convenções de sua época. Nascido no Rio de Janeiro, Heitor se destacou como um artista negro, autodidata e multifacetado, cujo legado é uma prova de sua genialidade e resistência.

1. A Jornada de um autodidata

Apesar de não saber ler ou escrever, Heitor dos Prazeres nunca permitiu que isso limitasse sua expressão artística. Sua trajetória é marcada pelo autodidatismo, uma vez que ele não era um artista acadêmico. Em vez disso, ele aprendeu a costurar com sua mãe e a marcenaria com seu pai, habilidades que mais tarde influenciariam sua arte.

2. Heitor e o carnaval

Heitor não foi apenas um pintor, mas também um dos criadores do carnaval carioca, contribuindo para a fundação de diversas escolas de samba, incluindo Portela, Mangueira e Estácio. Sua composição “Pierrot Apaixonado”, frequentemente creditada a Noel Rosa, é um testemunho de sua contribuição musical.

3. Representação na arte

Em suas pinturas, Heitor retratava pessoas negras de forma altiva, alegre e bem vestida, com a cabeça erguida, contrastando fortemente com as representações subalternas comuns da época. Esta visão contrasta com artistas como Debret, cujas representações muitas vezes perpetuavam estereótipos negativos de pessoas negras. Heitor celebra o afrofuturismo em sua arte, fazendo os figurinos se assemelharem às obras, e frequentemente representa o diastema, uma característica dental que ele possuía, para celebrar a beleza negra.

4. Desafios e reconhecimento

Uma infância marcada por adversidades. Aos 13 anos, foi encaminhado ao presídio devido à lei da vadiagem. No entanto, sua infância é representada em suas obras, refletindo sua resiliência. Apesar de sua imensa contribuição à cultura brasileira, em vida, Heitor foi um artista pouco conhecido. Muitos não queriam dar o devido valor à sua arte, e ele enfrentou o apagamento, especialmente em um mundo onde “o que está na internet nem sempre é verdade”. No entanto, sua arte “naïf”, não acadêmica, encontrou reconhecimento internacional, com exposições em lugares como Senegal, em Dakar.

5. Legado e Influência

Heitor dos Prazeres foi mais do que um artista; ele foi um revolucionário. Seu álbum “Macumba” foi premiado, solidificando seu lugar na música brasileira.

Heitor dos Prazeres é um testemunho do poder da autodeterminação e da resistência. Em face da adversidade, ele se levantou, desafiando as normas e criando um legado que ainda ressoa hoje. Sua vida e obra lembram que a verdadeira arte transcende barreiras e que podemos encontrar o brilhantismo nos lugares mais inesperados.Em um mundo que muitas vezes tentou silenciá-lo, Heitor dos Prazeres gritou através de sua arte e música, deixando uma marca indelével na tapeçaria da cultura brasileira.


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