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Resenha do livro “Fora de Série – Outliers” de Malcolm Gladwell

Dias atrás, terminei a leitura de um livro que, admito, estava empoeirando na minha estante “Fora de Série – Outliers”. O livro superou as minhas expectativas. Surpreendentemente, gostei tanto dessa leitura que resolvi fazer uma sequência de stories no meu perfil pessoal do Instagram. Compartilho aqui também como já costumo fazer. 

O livro aborda o sucesso de uma maneira diferente. Conta o sucesso de Bill Gates, dos Beatles e até do Oppenheimer através de dados e fofocas. Sabe aquelas coisas que ninguém conta direito? Só contam a parte bonita… Pois bem, o autor disseca essas histórias, literalmente. 

Malcolm, o autor, é um jornalista britânico. Sua mãe é jamaicana, e seu pai era inglês. Sendo assim, além de querer entender a ‘origem do sucesso’, foram também as histórias de sua família que o incentivaram a escrever o livro.
Irei focar nas seguintes histórias, dentre tantas que ele conta no livro:

  • Bill Gates
  • Os Beatles
  • Oppenheimer
  • Joyce Gladwell (mãe dele)

No meu entendimento do livro, Malcolm credita o sucesso individual de uma pessoa a 7 fatores:

  • Época
  • Ambiente
  • Prática (você não precisa ter talento, você precisa conseguir praticar)
  • Sorte
  • Oportunidades
  • Rede/pessoas (isso inclui a família)
  • Sua aparência, gênero, nacionalidade, cultura, etc.

O sucesso de uma pessoa será determinado pela combinação de um ou mais fatores. Tudo isso impacta no sucesso de um indivíduo. O objetivo do livro é refutar a ideia de que “seu sucesso não depende só de você.”

O sucesso de Bill Gates

Ele nasceu em uma família rica, estudou em ótimas escolas, teve a capacidade de escolher abandonar a universidade e contava com uma rede de contatos para obter os primeiros investimentos, entre outros fatores.

Além de ter nascido na família “certa”, ele também nasceu no ano “certo”, em 1955. Por exemplo, ele e Steve Jobs nasceram no mesmo ano. Se compararmos os primeiros gênios da tecnologia, todos eles nasceram entre 1954 e 1955, porque em 1975 precisam ter 20 ou 21 anos. 

Ao mesmo tempo, o que aconteceu em 1975? O momento mais importante na história da revolução do computador pessoal, que aconteceu em janeiro de 1975. O lançamento do Altair 8800, uma máquina que custava $397 dólares e podia ser montada em casa. 

A manchete de uma revista de tecnologia da época dizia: “Projeto revolucionário! Primeiro kit mini computador do mundo a competir com os modelos comerciais.”

A escola de Bill Gates chamava-se Lakeside e era uma escola particular frequentada por crianças da elite da cidade. Ele entrou nessa escola quando estava na 7ª série, e no seu segundo ano ali, foi criado um clube de informática. 

Naquele mesmo ano, o Clube das Mães, que arrecadava dinheiro todos os anos, com o propósito de investir 3 mil dólares em um terminal de computador, que foi instalado numa sala comum para os alunos.

Ocasionalmente, computador em questão era um ASR-33 Teletype. Nem mesmo a maioria das universidades americanas tinha acesso a um terminal como aquele. Naquela época, os alunos ainda aprendiam programação pelo sistema de cartões perfurados.

Obviamente, manter um computador daqueles ligado era muito caro, então os pais arrecadaram mais dinheiro, e os alunos gastaram tudo.

“Por sorte”, um grupo de programadores da Universidade de Washington criou uma empresa chamada C-Cubed, que alugava horas de computador para as empresas locais.

Adivinha quem era sócia dessa empresa? 

Uma das mães que tinha um filho na mesma escola que Bill Gates. 

O que ela fez? 

Ofereceu horas de programação grátis; em troca, os alunos tinham que testar os softwares da empresa depois da escola ou nos horários livres.

Entretanto, quantas outras crianças na década de 60 teriam a oportunidade de passar 8 horas em frente a um computador, treinando, se aprimorando e aprendendo?

Bill tinha todos os fatores a favor dele. O resto é história…

O sucesso dos Beatles

Eventualmente, os meninos de Liverpool foram convidados para tocar em Hamburgo, Alemanha. Isso aconteceu em 1960, quando ainda eram apenas uma banda de rock do ensino médio.

Lennon e McCartney começaram a tocar juntos em 1957, ou seja, 7 anos antes de seu boom em 1964, quando os Beatles chegaram aos EUA (a Invasão Britânica).

Os Beatles foram um dos maiores fenômenos de todos os tempos. Se analisarmos com atenção, o tempo decorrido entre a formação da banda e o lançamento de seu disco de maior sucesso – Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band – foram 10 anos.

Ps: o bloco de carnaval Sargento Pimenta foi criado em homenagem a esse disco.

O que aconteceu em Hamburgo?

Os Beatles e outras bandas de Liverpool foram convidados para tocar em boates de striptease, já que naquela época não existiam casas de shows.

Um dos proprietários dessas boates era um sujeito chamado Bruno, que teve a ideia de levar grupos de rock para tocar em diversas boates. 

Só para ilustrar, o formato do show era o seguinte: um espetáculo ininterrupto ao longo de horas, com muitas pessoas entrando e saindo. As bandas tocavam sem parar para atrair o público que passava.

E, o que havia de especial em Hamburgo? 

Logo depois, por obra do acaso (a famosa sorte), os Beatles acabaram voltando várias vezes para Hamburgo para tocar. Não era o dinheiro, o tal do Bruno pagava mal. Nem a acústica do lugar, nem o público, que nem conheciam as músicas. 

Em síntese, o que tinha de especial em Hamburgo era a quantidade de tempo que a banda era forçada a tocar. 

Muitos anos depois, após a separação dos Beatles, o John Lennon deu uma entrevista sobre esse fato: 

“Melhoramos e ficamos mais confiantes. Isso foi inevitável com aquela experiência de tocar durante toda a noite. Precisávamos nos esforçar ao máximo, colocar nosso coração e nossa alma naquilo para conseguirmos chegar ao fim. Em Liverpool, só fazíamos sessões de uma hora e costumávamos apresentar nossos melhores números, sempre os mesmos, em cada show. Em Hamburgo, como tocávamos durante oito horas, precisávamos realmente descobrir uma forma nova de fazer aquilo.”

Ps: 8 HORAS! Que banda faz show de 8h hoje em dia? 

Peter Best era o baterista dos Beatles nessa época, que também deu uma entrevista falando sobre Hamburgo: 

“Depois que correu a notícia de que estávamos nos apresentando, a boate começou a atrair mais gente. Tocávamos sete noites por semana. No início, tocávamos quase sem parar até a meia-noite e meia.”   

Ps: Eu sei muito bem por que os Beatles tocavam 8 horas, 7 dias por semana nessa época. Porque eles não tinham celular! Duvideodó que eles conseguiriam esse feito hoje

De 1960 a 1962, os Beatles viajaram para Hamburgo 5 vezes. Em um ano e meio, eles tocaram cerca de 270 noites, com aquela quantidade insana de horas.

Quando começaram a estourar, já haviam se apresentado mais de 1.200 vezes. Decerto, as bandas de hoje em dia nem chegam a tocar 1.200 horas durante toda a carreira.

Afinal, os Beatles não eram os mais talentosos; eles eram muito bem treinados. O sucesso envolve menos talento e mais preparação. Não existe talento inato.

Repita comigo: Não existe talento inato. Se você praticar qualquer habilidade, pode se tornar muito bom nisso.

Hamburgo foi sobretudo um divisor de águas na carreira deles e fez com que se destacassem dos demais grupos de rock da época. Lá, eles se lapidaram, tiveram que aprender sobre resistência, quantidade de números e tocar diferentes gêneros.

Outro exemplo musical: Mozart. “Ah pq o Mozart era um gênio. Ele compunha desde os 4 anos, blábláblá.” 

Analisando os dados, as canções que Mozart criou quando era criança eram canções infantis. Dessa maneira, sua primeira “obra-prima” (Nº9, K.271) foi criada quando ele tinha 21 anos.

Sendo assim, demorou 17 anos para que Mozart se tornasse Mozart. A maioria de seus sucessos foi produzida depois de 20 anos de prática. Ele nunca foi um prodígio; ele apenas foi alguém que praticou muito uma habilidade e se tornou muito bom nisso.

P.S.: Com a velocidade das coisas atualmente, muitas vezes não estamos dispostos a passar 20 anos praticando algo. Essa é a verdade. Acredito até que não podemos, não queremos e não conseguimos.

O sucesso de Oppenheimer 

O Oppenheimer também nasceu rico. Seu pai dele era dono de uma fábrica de tecidos e ele ia passar as férias de verão numa casa de campo, tinha carro conversível, tudo isso por volta de 1910… 

Desde que nasceu ele era considerado um gênio, autodidata. Na terceira série já fazia experimentos e na quinta já estudava física e química. 

Ele inegavelmente teve muitas oportunidades ao longo da vida. Estudou em Harvard (EUA) e depois foi para Cambridge (Inglaterra) fazer doutorado em física. 

Há relatos de que ele lutou contra a depressão a vida inteira. Ao chegar em Cambridge, ele se desesperou, pois seu dom era para a física teórica. No entanto, seu instrutor, Patrick Blackett (que ganharia o Prêmio Nobel em 1948), o forçava a estudar física experimental, algo que ele odiava.

Aí, Oppenheimer teve uma grande ideia: “Olha, num guento mais isso não. Eu vou m4t4r essa cara e acabar com os meus problemas.” 

Oppenheimer foi lá e tentou envenenar o professor, mas por sorte o professor percebeu que algo estranho estava acontecendo. Patrick não comeu a maçã da Branca de Neve e conseguiu se safar.

Ps: Alguém teve um professor que ganhou Nobel aqui? Por favor se manifeste. Eu não tive. 

O que aconteceu com Oppenheimer? NADA! 

Por que não aconteceu nada com Oppenheimer? Porque ele era homem, branco e rico.

Depois de muitas negociações, o relato em sua biografia diz que ele foi suspenso e passou a ter sessões regulares com um psiquiatra. SÓ.

No Código Penal brasileiro, tentativa de homicídio pode resultar em uma pena de 6 a 20 anos de prisão. Ou seja, ele cometeu um crime e seguiu o baile devido aos seus privilégios.

Outra coisa que Oppenheimer tinha: inteligência prática. Ele já possuía inteligência analítica, que é a inteligência inata que conhecemos.

Segundo o psicólogo Sternberg, a inteligência prática inclui elementos como saber o que dizer e para quem, saber quando dizê-lo e saber como dizê-lo para obter o máximo de efeito.

Assim, isso lhe confere uma habilidade específica para se desvencilhar de uma acusação de ass4ssinat0 ou para convencer qualquer pessoa a fazer qualquer coisa que você queira.

Inclusive, essa, para mim, é uma das principais mensagens do filme sobre ele. Você pode ser o que for, mas se souber se comunicar e tiver poder de persuasão, pode conseguir qualquer coisa.

Por fim, o exercício que Malcolm faz no final do livro ao contar a história de sucesso de sua mãe, Joyce, é fantástico. Primeiro, ele narra a história de uma maneira bonita, destacando apenas as partes boas, com todos os títulos, honras, etc.

Depois, ele conta a verdade. Não é que a primeira vez em que ele conta a história seja uma mentira, os fatos não foram inventados. Mas ele deixa muita coisa de fora. A primeira história não menciona as oportunidades que a mãe dele teve.

Ele diz: “É tão falsa quanto contar a trajetória de Bill Gates sem mencionar o computador de Lakeside.”

A mãe dele só conseguiu chegar ao sucesso devido à luta de sua avó e por ser uma mulher negra de pele clara. Na Jamaica, os negros de pele clara tinham mais oportunidades de emancipação.

O conceito de ‘seu sucesso não depende só de você’ faz muito sentido para mim. Não é uma isenção de responsabilidade, mas talvez devêssemos nos sentir menos frustrados, menos culpados e menos tristes.

Porque, no fim, estamos realmente fazendo o nosso melhor, e existem muitos fatores que influenciam o nosso sucesso.

Contudo, ao compreender essas histórias, você pode decidir se quer continuar se esforçando para alcançar o ‘sucesso’ ou se prefere simplesmente viver o seu dia a dia de boas.

Independentemente da sua escolha, o sucesso real é influenciado por diversos fatores.

No entanto, a sua vida, a sua felicidade e como você se sente realmente dependem de você. Agora, se você vai ganhar o Prêmio Nobel da Paz, conquistar uma Copa do Mundo ou ter um milhão de seguidores, isso não depende SOMENTE de você. Pois todos os fatores citados anteriormente podem e vão influenciar direta ou indiretamente o seu sucesso.

Para mim a mensagem mais legal desse livro é a seguinte: NÃO SE COMPARE! 

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Trecho retirado do livro.

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